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Furoshiki – a arte japonesa de embrulhar com tecidos

Furoshiki é uma técnica tradicional de embrulho japonês recorrendo apenas a tecido, é muito utilizado para embalar presentes e transportar diversos objectos.  

A primeira vez que usei furoshiki espontâneo no meu dia-a-dia foi simplesmente para transportar algumas frutas frescas que comprei numa mercearia. Estava a passear na baixa da minha cidade, num dia solarengo de Outono, e aproveitei uma promoção de maçãs. Usei a minha écharpe florida, com muita naturalidade, porque sabia que poderia fazer um cómodo e eficiente saco de compras com aquele pedaço de tecido. O lojista sorriu, um pouco surpreendido, mas essencialmente contente, e até disse “isso ainda é melhor que os sacos de pano”. Não podia estar mais de acordo! 

O furoshiki contemporâneo não tem limites, não se fica por copiar receituários de nós e dobras do período Edo, nem tão pouco se resume às funções de embrulhar presentes ou fazer fardos de carga para levar às costas durante uma longa viagem. Mas, para perceber os princípios que se mantêm na base desta prática, é indispensável conhecer a sua história e modelos. Como em qualquer arte, o jazz vem depois do clássico, podemos desviar-nos criativamente apenas depois de atingir a essência e dominar o cânone. 

Algures no período Nara (710 – 784), quando se desenvolveu a corte imperial japonesa, os pertences dos imperadores e dos restantes membros da corte começaram a ser cuidadosamente embrulhados em panos para os proteger do pó, insectos e humidade. Tendo o Japão um clima de extremos, e especialmente muito quente e húmido no Verão, os papéis e tecidos eram particularmente vulneráveis a danos.

Os próprios kimonos eram frequentemente guarnecidos de especiarias e unguentos (a maior parte deles caríssimos, já que eram importados da Índia) para os preservar das traças e para mascarar os odores humanos. Panos avulsos, fossem eles tecidos para o efeito ou o resultado do desmantelamento de túnicas e vestes, eram por sua vez usados como “coberta” de itens mais preciosos. Com rebordos fortes, para resistir a nós, mas com padrões delicados, para não descurar a impressão sensível da beleza, os primeiros furoshiki terão sido provavelmente embrulhos de escrituras ligadas aos cultos budistas.

Furoshiki – a arte japonesa de embrulhar com tecidos | Kuri Kuri

Contudo, em poucas décadas, a prática espalhou-se até às coisas mais mundanas, como por exemplo embrulhar as roupas de uma pessoa enquanto esta está, desnuda, a desfrutar das termas. Aliás, foi a sua banalização como tal que acabou por lhe cunhar o nome: “furo” virá de “ofuro” (o banho de imersão) e “shiki” de “coisa que se espalha/abre/desdobra”. 

No Japão antigo não existia muito o hábito de fazer costura, com agulha e linha, nem tão pouco “pacotes” de formatos rígidos. O pano simples é perfeito para este sistema de pensamento, já que um mesmo pano pode servir para embrulhar algo longo e fino ou redondo e bojudo, uma pilha de livros ou um fardo de roupas, uma melancia ou os materiais de caligrafia.

O furoshiki é simultaneamente o objecto, a prática, o sistema, e o receituário de “dobras”. É, portanto, uma espécie de versão do origami aplicado à necessidade prática de criar embrulhos, sacolas, pacotes ou fardos. Tal como o origami, que não requer o corte do papel, a colagem, ou acessórios, o furoshiki  japonês tradicional também não requer costuras, pegas ou alças. A textura e padrão do tecido, bem como o modo como os nós são posicionados e empolados quase como laços, é decoração suficiente. E, ao segurá-lo em mãos, há um sentido de preciosidade do seu conteúdo, uma dignidade do que é protegido com tanto cuidado. 

O manuseio do furoshiki é feito depois de se ter depositado nele o conteúdo que vai envolver, as dobras e nós são feitos sobre o seu recheio, pelo que a energia de quem criou o furoshiki, o seu movimento activo, envolve os itens em questão. O acto é diametralmente oposto a depositar um artigo num saco ou atirá-lo para uma caixa, e essa ênfase na energia do movimento executado com um propósito é transversal tanto às artes marciais como à dança das gueixas, transparece desde a coreografia da cerimónia do chá até ao modo moderno de dobrar roupas da Mari Kondo. 

Para realizar um furoshiki eficiente é preciso desenvolver um sentido empírico de “proporção”, uma noção espacial do volume do que se quer embrulhar e a sua correspondência quanto ao tamanho do pano. O pano é quase sempre quadrado (ou levemente rectangular, como a minha écharpe) e, depois de feitas as dobras e nós, não deve ser “demais”.

O furoshiki não deve parecer excessivo (com tecido a mais) nem repuxado (com nós que quase rebentam), não deve ser feito com tecidos elásticos ou com padrões inapropriados ao bom gosto do resultado final (com letras, rostos, paisagens ou figuração óbvia). Tal como na simplicidade do chão de tatami, menos é mais. Um pano de algodão, rígido o suficiente para o atrito segurar os nós e flexível o suficiente para a dobragem ser fácil, é o melhor. Um padrão leve, geométrico, ou um padrão abstracto, multicolorido, serão ideais.

Muitas vezes os panos usados têm dupla face, com um lado decorado e outro de cor plana, para que as dobras ponham a outra face a descoberto, num jogo sofisticado de esconder/revelar. 

Algumas das preocupações mais prementes do mundo contemporâneo trazem de novo à tona as potencialidades do furoshiki, nomeadamente a sua apetência para a ecologia. O pano, que já de si pode ser fruto de um reaproveitamento (podem fazer furoshiki de lençóis velhos, almofadas datadas, etc), é também quase eternamente reciclável.

Quem recebe, após desembrulhar, fica com mais um exemplar, e por seu lado, nas nossas lides quotidianas, vamos entregando os que já passaram pelas mãos. O furoshiki circula, e por isso se uma determinada comunidade o usa recorrentemente há sempre o hábito e o recurso disponível. Podemos fazer uma mochila furoshiki com um pano quadrado grande e uma tira de tecido (ou uma toalha estreita e longa, como as que se usam nas termas japonesas) e levar assim a toalha de praia e uns refrescos na próxima vez que formos desfrutar de um belo dia de Verão. Os sacos de plástico já eram obsoletos, mas na verdade, com furoshiki, todos são.

Kimono Feminino e Masculino – A Arte de Usar um Kimono

Desde sempre peça intemporal e de renome internacional, o kimono é a imagem de marca da cultura japonesa há mais de dois mil anos. Usado tanto por mulheres, homens como por crianças, esta peça tem na sua essência primordial uma enorme versatilidade. Quanto ao significado, a sua etimologia remete para “ki”, vestir, e “mono”, coisa, aquilo que se veste, portanto.

 O modelo do kimono que chegou até nós surgiu no Período Heian, no início do século VIII, anteriormente os japoneses usavam duas peças, a parte de cima e a de baixo, mas a partir deste período o modo de vestir japonês foi simplificado, passando-se a usar um método de corte em linhas simples e rectas, com apenas uma única peça que bem serviria a todos os tipos de corpos e alturas.

Actualmente, os japoneses usam kimono em eventos especiais, como em festivais, casamentos, funerais ou cerimónias relevantes e não como peça do dia-a-dia. Na sua versão mais informal, designa-se por yukata, sempre sem forro, uma peça mais leve em algodão e, por isso, mais usada na época balnear. 

Kimono Feminino - Kuri Kuri Shop

Kimono Feminino e Masculino

Actualmente e um pouco por todo o mundo, o kimono é cada vez mais sinónimo de elegância, requinte e saber vestir. Usado tanto por homens como por mulheres, é presença constante e assídua nas passarelas mundiais. A peça funciona bem em qualquer tipo de corpo e compõe de forma correcta qualquer indumentária, seja mais casual ou formal.

O kimono é usado dependendo da ocasião e respeitam uma hierarquia. Dos diferentes tipos de kimono que existem destacam-se:

  • Kurotomesode, kimono preto com profusa decoração e com cinco escudos de família, kamons, impressos ou bordados em branco, é usado formalmente pelas mulheres casadas;
  • Furisode, kimono cujas mangas possuem mais de 70cm de comprimento, usado pelas mulheres solteiras;
  • Irotomesode, é a versão menos formal do Kurotomesode, liso, de uma só cor, também usado por mulheres casadas;
  • Iromuji, kimono de uma só cor, muito elegante para um uso mais comum, que pode ter textura mas sem decoração em outra cor, usado principalmente nas Cerimônias do Chá;
  • Haori, a versão mais curta, usada como um casaco e normalmente associados à burguesia japonesa. Para além destes podemos ainda encontrar kimonos desportivos, de judo e karate, por exemplo.

 De entre os acessórios mais comuns associados a um kimono destacam-se o famoso Obi, a faixa cinto, que deve ser sempre apertado atrás, de forma a respeitar a tradição e costumes, as tabi, as meias tradicionais japonesas de um dedo, as sandálias zori, de madeira ou palha de arroz, e kanzashi, os acessórios florais usados para enfeitar e decorar o cabelo.

Todos os Kimono Femininos à venda na loja japonesa Kuri Kuri Shop.